segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O apartheid digital brasileiro



Artigo assinado por Elis Monteiro, Gerente de Relações Públicas do CDI no Jornal do Brasil - 12/12/2009


O número é alarmante, mas previsível: de acordo com dados divulgados pelo IBGE, na Pesquisa Nacional de Domicílios (Pnad) 2008, nada menos que 104,7 milhões de brasileiros com dez anos ou mais de idade não usam a internet, criando o que está sendo chamado de “Apagão Digital”. Em termos percentuais em relação à população, 65,2% dos brasileiros não usam a rede mundial de computadores. Há muitos anos o CDI (Comitê para Democratização da Informática) tem usado o termo ”Apartheid Digital” para classificar o abismo que existe entre os que têm acesso aos benefícios da sociedade virtual e aqueles que dela já estão extraindo o que há de melhor. Tal abismo digital acaba criando uma outra consequência nefasta, que é o abismo social. Simplesmente porque ter acesso à tecnologia é condição sine qua non para o desenvolvimento profissional – e também pessoal – de qualquer cidadão.

Quem não tem intimidade com a Grande Rede também fica sem acesso, dentre outras coisas, a serviços de governo eletrônico, ao uso das redes sociais, que estão radicalizando a forma como as pessoas se comunicam hoje e, principalmente, deixam de incluir em seus currículos uma habilidade fundamental num mundo que não conhece mais fronteiras.. Vale lembrar que a Internet não só foi considerada a maior invenção do Século XX como está revolucionando o planeta, simplesmente por dar voz aos excluídos, em quaisquer esferas. Vide o caso do Irã, aonde cidadãos usaram a rede de microposts Twitter para furar os bloqueios da censura e criticarem os resultados das últimas eleições. Este é apenas um num mar de exemplos que só faz clarear a importância da Web para a criação de um mundo realmente globalizado, em que todas as pessoas têm a chance de se informar melhor sobre suas realidades e ganhar um canal de comunicação com o mundo.

Mas por que ainda há tantos excluídos digitais num país no qual o preço dos computadores caiu vertiginosamente nos últimos anos? Não é o computador a premissa do contato entre o cidadão e a grande rede? Na verdade, não. Tal premissa se chama Conexão e aí está o gargalo a ser enfrentado pelos três setores da sociedade – governo, empresas e entidades civis. É preciso universalizar o acesso às tecnologias que permitem o link entre o computador e o ciberespaço. E aqui há muito trabalho a ser feito.

Atualmente, a inclusão digital no Brasil tem sido feita através das lan houses – são mais de 100 mil no país - que ainda não oferecem um tipo de serviço adequado para a promoção do acesso a uma informação de qualidade. Por isso criamos a iniciativa CDI Lan, com o objetivo de contribuir na qualificação e na melhoria da gestão destes estabelecimentos, que deveriam servir não apenas para jogos e chats, mas como um meio de construção de uma nova forma de cidadania – mais interativa e com mais e melhor conteúdo. Ou seja, a internet oferece a chance de abertura de uma porta para um novo universo de conhecimento do qual ninguém deveria estar à parte.

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