quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Acesso à internet é instrumento de comunicação e transformação social

CICLO COMUNICAR TECNOLOGIA

7/10/2009
Gabriela Bittencourt

A inclusão digital, à medida que amplia o acesso ao conhecimento tecnológico, implica também o aumento das possibilidades de comunicação e informação. E essas iniciativas não se direcionam apenas a populações carentes, como comumente se pode acreditar. As ações inclusivas envolvem também crianças, adolescentes, adultos, idosos e pessoas com necessidades especiais.

As experiências para levar esses benefícios aos diferentes perfis envolvem entidades competentes, empresas e setor público em torno do mesmo tema. Para esses grupos, as iniciativas são mais que um mero trabalho para permitir o domínio dos recursos tecnológicos aos excluídos digitais: são instrumentos de transformação social.

De acordo com dados do Mapa de Inclusão Digital no Brasil, uma iniciativa do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), órgão de pesquisa do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) para mapear pontos de inclusão e telecentros nos estados e municípios do País, cerca de 3 mil cidades desenvolvem ações para democratizar o acesso ao computador. Segundo o mesmo estudo, existem cerca de 108 programas nesse âmbito no território nacional, sendo dez deles iniciativas da União; 23 dos Estados; 24 dos Municípios; oito de universidades; e 43 de ONGs.

Rodrigo Baggio, empreendedor social, fundador e diretor-executivo do Comitê para Democratização da Informática (CDI), é enfático ao afirmar que todos os segmentos da sociedade têm importantes contribuições a dar nos processos de inclusão digital. Como ele destaca, o segundo setor (iniciativa privada) é fundamental para proporcionar oportunidades de capacitação, trabalho e geração de renda. “Com isso, mais pessoas acessarão a tecnologia”, considera.

Já o terceiro setor (ONGs), como Baggio afirma, deve levantar discussões, encaminhar propostas e participar ativamente de campanhas e iniciativas que levem a internet para todos.

“Quanto ao governo, cabe a ele a responsabilidade de pensar e aplicar políticas que viabilizem a integração dos cidadãos à sociedade do conhecimento, o que passa pela escola. Vale ressaltar, contudo, a necessidade de sinergia entre os três setores. Com a união de esforços e espelhados nos bons exemplos, poderemos chegar lá e substituir a inércia pelo arrojo. Isso significará economia de tempo e recursos e potencialização dos resultados”, desenvolve.

O CDI acredita que essas iniciativas devem incluir os mais variados públicos. É por isso que o Comitê promove ações em presídios, instituições que abrigam jovens, casas psiquiátricas, entidades para portadores de deficiência, comunidades indígenas e ribeirinhas, entre outras áreas remotas. “Atendemos todas as faixas etárias, seja na cidade ou no campo. Nosso modelo pedagógico é flexível e adaptável a diferentes contextos, ainda que o objetivo seja sempre o mesmo: transformar vidas e a realidade das populações menos favorecidas”, enfatiza.


Os perfis

De acordo com Baggio, a importância dessas ações inclusivas envolverem também a terceira idade é visível nos espaços da entidade. “Em contato com a informática, os idosos acabam se sentindo mais integrados à sociedade, mais seguros e com mais autoestima. Muitos deles usam o computador para se comunicar, se aproximar dos mais jovens, se informar, resolver problemas e até mesmo localizar parentes distantes. Outros querem simplesmente se divertir e fazer amigos, escrever receitas e pesquisar algo de seu interesse”, lista.

Independente do motivo que move os mais velhos para o contato com as novas tecnologias, o diretor-executivo do CDI afirma que os resultados são muito positivos. “Os próprios geriatras estabelecem uma correlação muito positiva entre esse acesso e a melhora de qualidade de vida deles, que sentem bem-estar e orgulho de fazer parte da sociedade da informação. Em outras palavras, eles deixam de se sentir à margem da modernidade e, com isso, até no interior da família, as relações com os idosos se modificam”, opina.

No caso dos portadores de deficiência, a inclusão digital também tem importância destacada. Para Baggio, a união entre tecnologia da informação e comunicação provocou uma revolução na rotina dos portadores de limitações físicas e/ou mentais. “Significa a possibilidade de mais interação, mais bem-estar e igualdade em relação aos outros indivíduos”, emenda.

O computador cria facilidades para essas pessoas, permitindo que desenvolvam tarefas que, de outra forma, seriam de execução mais penosa e mais lenta. “Tanto é assim que portadores de deficiência são aproveitados, hoje, por diversas empresas nas mais diferentes funções e com desempenho reconhecido”, comenta, acrescentando que é necessário cada vez mais ações para esse público. ”Essa parcela da população no Brasil é composta por milhares de indivíduos, muitos deles jovens”, diz.


Poder de transformação

Para Priscilla Cortezze, diretora de Comunicação Corporativa e Cidadania da Microsoft Brasil, não há dúvidas de que a inclusão digital e o acesso à informação e comunicação decorrentes desse processo favorecem, especialmente, a motivação de jovens pela aprendizagem. “O entusiasmo pela busca do conhecimento, o despertar do talento e a capacitação profissional são impulsionados pela inclusão digital e contribuem significativamente para a transformação social”, enfatiza.

Baggio conta que o CDI já registrou diversos casos em que a inclusão digital fez toda a diferença na vida das pessoas. Para ele, essas iniciativas criam oportunidades individuais e coletivas para aproximar pessoas e resgatar sonhos. “Em nossa rede, temos jovens que pularam das grades para o computador, tornando-se excelentes educadores e empreendedores. Temos pessoas que venceram vícios, reconstruíram laços familiares e criaram projetos sociais que devolveram a esperança a muita gente”, destaca.

Rogério Ribeiro Herrerias, diretor técnico da Central de Processamento de Dados (CDP) da Prefeitura de Promissão, cidade paulista com cerca de 35 mil habitantes que se destaca por combater o analfabetismo digital, considera que essas ações devem ser de preocupação do setor público. “Quando falamos em inclusão digital, estamos nos referindo ao presente e ao futuro de cada cidadão. Temos a oportunidade de levar a ele um conhecimento educacional, cultura e social, enfim, uma inclusão real do indivíduo no mundo globalizado de hoje”, afirma.

Para Herrerias, administração pública que não investe nessas iniciativas para seus cidadãos está sujeita a uma “paralisação no tempo”. “Hoje, os municípios têm diversas oportunidades de promover a inclusão digital. Mesmo para aqueles que não estão bem financeiramente, existe a possibilidades de implantações de telecentros, bastando apenas arcar com custos operacionais de tutores e de infraestrutura”, argumenta.


Investimento privado

Priscilla comenta que as iniciativas de inclusão digital da Microsoft Brasil focam especialmente a educação e o funcionalismo público, as organizações sem fins lucrativos e os centros comunitários. Segundo a executiva, a empresa entende que, concentrando seus investimentos de responsabilidade corporativa em ações vinculadas a seu core business, é possível desenvolver programas com mais benefícios para as comunidades. E a Comunicação Corporativa participa ativamente desse processo.

“A área contribui com os programas de inclusão digital da empresa auxiliando na divulgação das oportunidades criadas para o público interessado e no registro de resultados obtidos, incentivando, assim, a propagação das iniciativas para um número cada vez maior de beneficiados”, afirma.

Para a diretora, ao investir em inclusão digital, a Microsoft ajuda a desenvolver o mercado de tecnologia em que atua. “As comunidades, por sua vez, ganham com estímulo à educação, capacitação profissional, mais eficiência na gestão de pequenos negócios, subsídios para o empreendedorismo e geração de emprego e renda”, analisa, acrescentando que, nos últimos cinco anos, cerca de 3,4 milhões de pessoas foram beneficiadas pelas ações de inclusão digital da companhia no Brasil.


Experiências do setor público

Brasil afora, experiências das esferas federal, estadual e municipal começam a reconhecer o valor do contato da população com a tecnologia. Em Promissão, a administração pública promove projetos para permitir o acesso dos munícipes à web, entre eles o oferecimento de telecentros comunitários, cursos de informática e internet gratuita nas moradias dos cidadãos. “Com isso, esperamos que eles possam utilizá-la da melhor forma possível para adquirir conhecimento e tornarem-se aptos ao mundo digital que nos envolve hoje. Nos sensibilizamos com a inclusão digital dentro de seus cenários financeiro, social, administrativo, educacional e político”, afirma Herrerias.

De acordo com ele, a comunidade já pode experimentar as vantagens do aprendizado e do acesso à tecnologia. O setor público, por sua vez, também recebe um retorno positivo por esse investimento. “Com o conhecimento repassado pelos cursos básicos de informática e as orientação para acesso à internet nos telecentros, crianças, jovens e adultos utilizam o computador e a web da melhor forma, acarretando assim uma melhora educacional. Já com o projeto ‘Internet Gratuita’, existe um beneficio visível na arrecadação de impostos atrasados, no comprometimento da população com pagamento dos tributos em dia e no olhar mais atento a determinada questões, como possíveis focos de dengue dentro de sua residência”, considera.

Com base nessas experiências, Herreria acredita que as ações inclusivas no presente são temas importantes para garantir um melhor futuro. “No caso de Promissão, temos a expectativa de sempre desenvolver um canal melhor de comunicação com os munícipes nas áreas da educação, assistência social, saúde e administração, de modo que todos os cidadãos possam usufruir de serviços públicos de qualidade”, finaliza.

Fonte: http://www.nosdacomunicacao.com/panorama_interna.asp?panorama=251&tipo=R

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